Hoje eu vi Deus. Sim, era Ele. Olhei através da janela do meu quarto, como de costume quase metódico, ao acordar pela manhã, às 7h48 (incrivelmente, e não me pergunte como, acordo esse horário todos os dias). Do outro lado da rua, as árvores estavam repletas de folhas. Todas bem verdinhas. Cheias de vida. Comum nas primaveras da Europa. Mas me dei conta que já tem três dias que a primavera acabou, cedendo lugar ao verão. Sim, foram três meses de primavera trancados em casa, só assistindo às mudanças perfeitas da natureza pela janela. Mas, voltando às árvores. Eu passei a observar cada detalhe. Desde as raízes, que só consegui ver o início delas na terra. Muito pouco mesmo. Passando pelo tronco, nem muito grosso, nem muito fino. Mas bem linear, em um ângulo perfeito de 90 graus. Do tamanho ideal para sustentar toda aquela copa. Nos primeiros galhos, já com bastante folhas, mas com menos que o topo, pude perceber os tradicionais passarinhos que costumam me acordar diariamente (Taí, devem ser eles que começam os piados as 7h48). Nem ligo para o fato de o piado deles me acordar. São minha família agora (que saudade me deu dos meus pais que estão agora do outro lado do oceano). Já me acostumei a esses bichinhos e até gosto deles. Eles, perambulando de galho em galho, naquele emaranhado que mais parecia um novelo de lã todo embolado. (me lembrei da minha avó. Não no fim da vida. Me lembrei dela na minha minha infância. Ela costurava. Fazia lindos pullovers para os netos. Me bateu uma saudade enorme. Não está aqui para ver o que está acontecendo. Será que devo agradecer por isso? Nunca vou saber). Preciso me concentrar. Tenho me dispersado e me entregado aos meus devaneios com bastante frequência. Estou fugindo do foco. Depois desse emaranhado de galhos subi a vista mais um pouco. E foi ali que senti. Em meio às folhas novas da copa, e bem verdes, todas do mesmo tamanho, uma miragem. Mesmo, certamente sendo uma intrusa naquela árvore, ela aproveitou para se enroscar no tronco e nos galhos, saindo por entre as folhas. Uma rosa vermelha plena e milimetricamente aberta. Vermelha sangue. Do tamanho de uma mão fechada. Ela estava olhando para mim. Da janela eu podia ver as pétalas aveludadas e gotículas de orvalho. As gotículas podem ser criação da minha mente, já que estavam longe o suficiente para eu não enxerga-las. Mas meu cérebro certamente estava pintando alguns detalhes que meus olhos não viam. Não sei se o isolamento pode estar gerando efeitos alucinógenos. Mas o fato era que Deus estava ali. O meu Deus. Se alguma coisa puder, algum dia, comprovar a existência Dele para o mundo será a natureza perfeita. Me peguei com um dos braços esticados para cima, com a mão fechada. Assim, do tamanho da rosa. E uma gota escorreu pelos meus olhos. Ao contrário de mim, ela desceu livre.
2 Comentários
Lendo esse belíssimo texto, me peguei sentindo a mesma sensação relatada por você, Bela. Achei lindo, puro e muito emocionante.
Muito obrigada pelo carinho!! Que bom que gostou!