Antes de falar do livro A Mulher na Janela (A.J. Finn – Daniel Mallory), eu gostaria de falar um pouco desse autor, Daniel Mallory, de pseudônimo A. J. Finn. Ele é um escritor norte-americano estreante da literatura, e já em seu primeiro livro teve a tradução para 36 países e o roteiro será adaptado para as telonas em outubro de 2019. Um enorme sucesso, sem dúvidas. Mas, nos últimos dias, uma notícia bagunçou um pouco o mercado editorial de todo o mundo. Matéria dos principais jornais de todo o mundo dão conta de que o autor mentiu em suas qualificações e sobre o seu estado de saúde – disse que teve um tumor e no cérebro e que se curou após uma cirurgia. Outras das supostas mentiras dele seria de que sua mãe teve um câncer agressivo que a levou à morte e que seu irmão morreu sob os seus cuidados. No entanto, ambos ainda estariam vivos. (https://www.msn.com/pt-pt/noticias/sociedade/autor-de-a-mulher-%C3%A0-janela-inventou-ter-um-tumor-no-c%C3%A9rebro/ar-BBTfp09)
Ele se justificou, em resposta dada pela sua assessoria de imprensa, que estaria passando por alguns problemas psicológico, como a bipolaridade, e que precisou inventar o câncer para justificar a ausência nos momentos em que a bipolaridade se pronunciava. Segue a íntegra do comunicado:
“Em inúmeras ocasiões no passado, afirmei, impliquei, ou permiti que outros acreditassem que eu estava afetado por uma doença física em vez de uma psicológica: câncer, especificamente. Minha mãe lutou contra um câncer de mama agressivo, começando quando eu era adolescente; foi a experiência formadora da minha vida adolescente, sinônimo de dor e pânico. Senti-me profundamente envergonhado de minhas dificuldades psicológicas – elas eram meu segredo mais assustador e mais sensível. E durante 15 anos, mesmo enquanto trabalhava com psicoterapeutas, fiquei absolutamente aterrorizado com o que as pessoas pensariam de mim se soubessem – que concluiriam que eu estava defeituoso de uma forma que eu deveria ser capaz de corrigir ou, pior ainda, que eles não acreditariam em mim. A dissimulação parecia o caminho mais fácil”, disse ele.
Infelizmente, esse episódio manchou um pouco o início de sua carreira literária que parece ser promissora. No entanto, seu livro de estreia fala por si só. Vamos então ao livro.
A Mulher na Janela
Essa foi a minha segunda leitura do ano de 2019. Um thriller psicológico, em que a personagem principal, Anna Fox, se afunda em uma depressão que faz com que ela simplesmente não consiga sair de casa. Esse não é um medo simples. Ele é patológico, paralisante.
Decorrente de uma separação repentina e brusca de seu marido e de sua filha, toda essa situação de fobia, chamada de Ágorafobia, torna a vida da personagem extremamente monótona, parada e repetitiva. Sua rotina se resume a tomar seus remédios (nem sempre administrados da maneira correta), tomar muito vinho (o que não é aconselhado por causa do tratamento), ver filmes antigos (o que mostra sutilmente como Anna está apegada ao passado e não consegue se projetar em um futuro) e bisbilhotar os vizinhos por meio de uma câmera fotográfica instalada na janela de sua casa. Além disso, por ser psicóloga, ela participa de um chat na internet, ajudando outras pessoas, em outras fobias e em outros processos de depressão. No entanto, sob um pseudônimo. Isso produz no leitor um certo incomodo, já que ela mesma está afundada em patologias psicológicas graves, que a impedem inclusive de sair de casa, e se propõe a ajudar outras pessoas em seus dramas. E ela, de fato, ajuda.
Justamente por se tratar de uma rotina extremamente monótona, o livro, em um primeiro momento, pode enganar o leitor. Seria esse um livro com ritmo lento e sem graça? Dá para confundir se a narrativa era de fato monótona (narrativa feita pela personagem principal) ou se a construção da trama foi feita intencionalmente para deixar o leitor passivo e, até mesmo, entediado. Mas, é aí que mora o brilhantismo dessa obra. Intencionalmente, o autor apresenta uma Anna Fox monótona, quase chata, que precisa de uns empurrões do leitor. Produz até um certo incomodo só de imaginar a vida de Anna Fox.
No entanto, no decorrer da trama, o livro mostra a que veio. Com o passar das páginas, a narrativa é construída a partir das coisas que ela observa da janela, o que coloca a personagem principal em uma situação extremamente delicada e em constante conexão com o seu passado, que é colocado para o leitor aos poucos. O suspense vai se desenrolando e envolvendo o leitor de uma forma que fica difícil interromper a leitura.
As reviravoltas são uma característica forte da trama e não são previsíveis. Momentos de tirar o fôlego interrompem o leitor e pedem um pouco de ar para absorver tudo o que está acontecendo. Os personagens são muito bem construídos pelo autor da obra, o que nos coloca em dúvida – e essa é a intenção do autor – em vários momentos. Com o passar do tempo, a gente consegue entender as dores da personagem principal e entende, de fato, os seus reais problemas.
Um suspense cativante e empolgante. Tomara que o filme seja tão bom quanto o livro. Agora, é esperar outubro para confirmar!
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