Uma distopia fascinante. Uma ficção científica que até poderia ser real, se pensarmos no contexto político que é tão latente nessa história! Mundo em Caos, de Patrick Ness, me tirou da minha zona de conforto e me fez passear por um lugar completamente desconhecido. Finalizei essa leitura meio que perdendo o ar, angustiada e abalada.

Vamos à história: Mundo em Caos é um livro para jovens adultos, do escritor romancista britânico Patrick Ness. A primeira coisa que me chamou a atenção, além, é claro da edição lindíssima da Intrinseca, foi o título. Na verdade, Mundo em Caos é o nome de uma de uma série, cujos os nomes dos livros – que já foram publicados – são: The Knife of Never letting go – com a tradução mais ou menos “A faca de nunca deixar ir” ou libertar – enfim, essa seria uma tradução bem literal e, até mesmo, tosca, mas diz bastante sobre o livro. A faca é muito importante nessa história. O segundo, seria The ask and the answer – que seria traduzido para A pergunta e a resposta – e o terceiro livro é Monsters of Men – que a tradução seria mais ou menos Monstros dos homens.

Essa trilogia já foi lançada aqui no Brasil com outros nomes: O motivo (2008), A missão (2009) e A guerra (2010). A edição que eu li é a mais recente, da editora Intrínseca. Nessa tradução, o nome da série se transformou no nome do primeiro livro. Eu confesso que, lendo esse livro, preferi o nome original, acho que tem bastante a ver com a história e mexe muito com os personagens. Enfim vamos a essa história que me fascinou.

Como toda distopia, a livro pretende passar mensagens que precisamos levar para a vida. Muitas delas vêm em forma de metáforas da vida, mesmo parecendo um ambiente e uma narrativa completamente irreais. Tem uma questão política bastante latente nessa história que, em muitas situações, nos faz lembrar da nossa realidade e nos questionar: chegaríamos a esse ponto? Acredito até que poderíamos chegar ainda mais longe.

A história que se sabe no início da leitura é sobre um Mundo Novo acometido por um germe disseminado pela guerra “da colonização” que, simplesmente, exterminou as mulheres dessa sociedade e, também, o silêncio – além, é claro, dos nativos “selvagens e assassinos, que pareciam animais”. Me lembrou a nossa colonização que também exterminou com os donos da nossa terra, sob os mesmos argumentos.

Nesse novo mundo, os pensamentos de todos os seres vivos são audíveis, em um fluxo meio caótico de barulho, o que foi denominado no livro como ruído. A privacidade desses homens completamente extinta, além do direito de ir e vir, já que o ruído de cada um denunciava onde eles estavam. No entanto, como tudo na vida, as pessoas aprendem a lidar com os ruídos e a tentar esconder, camuflar ou confundir as pessoas em relação ao próprio som. Com o tempo, a gente percebe que existem estratégias para isso.

Todd Hewitt, o grande protagonista dessa história, é ainda um garoto de 12 anos prestes a se tornar homem, aos 13. Sim, neste Novo Mundo os garotos se tornam homens aos 13 anos. De uma maneira muito repentina, seus pais adotivos – não vou falar muito deles aqui, pois a história vai nos contando – mandam que ele fuja junto a seu cachorro Manchee. Ele não entendeu nada, relutou um pouco, mas seguiu a ordem. Os pais entregaram a ele uma mochila com suprimentos, um diário deixado pela mãe dele, além de uma faca (aquela faca do título em inglês), que terá papel fundamental no decorrer da trama.

Todd, então, foge. Mas ele não sabe do que ele está fugindo – tem uma vaga noção de que o prefeito desse povoado está o procurando – e não sabe para onde, pois ele sempre achou que só existisse aquele povoado. E ele sempre teve muito medo da população alienígena que morava ali, antes das pessoas chegarem nesse novo planeta, pois o que diziam era sobre serem assustadores e cruéis.   

Logo no início dessa trama, durante a sua fuga cheia de perigos, ele encontra uma silenciosa garota em seu caminho. Isso, mesmo Viola surpreende a ele, já que é uma mulher e, também, por não possuir ruídos. Ele logo se angustia sobre a possibilidade de contaminá-la com o germe que ele possui em seu organismo e que pode matá-la, assim como aconteceu com as outras mulheres desse povoado.

Bom, muita coisa acontece no decorrer dessa fuga desesperada e muitas lições são tiradas. Não vou aprofundar para garantir que eu não conte nenhuma informação crucial do livro. Mas, queria, aqui, compartilhar algumas reflexões:

Até que ponto as histórias que Todd sabe são verdadeiras ou mentirosas?

Porque ele é praticamente analfabeto? Logo no início, o livro apresenta uma conversa dele com os pais adotivos e fica claro que todos os livros tiveram que ser queimados. Por que o conhecimento é perigoso para alguns governantes?

Por que ao se tornar adulto é necessário que se perca a pureza e a inocência?

Os nativos são considerados assassinos e selvagens. Como, então, os colonos ‘ganharam’ essa guerra, o que permitiu que eles se instalassem nesse novo planeta?

Por que há tantos segredos entre população e governo (no caso do livro, o Prefeito)?

Bem, algumas questões que você vai observar ao longo da leitura vão te levar a fazer conexões com a nossa realidade. Pelo menos, eu as fiz. O mais legal das distopias é justamente entender essas conexões. Nada é por um acaso. Uma das funções das distopias é justamente nos fazer pensar sobre o seguinte ponto de vista: e se nossa realidade se transformasse nisso? Será que estamos cometendo erros que nos levariam a essa situação?

Boa leitura!

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