R
Qualquer palavra ou expressão que eu escrevesse seria apequenar o sentimento que eu tive ao ler A morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstoi. O tema central dessa novela curtinha do escritor russo é a morte. Mas, não se engane pensando que o livro é fácil de ler por ser curto, apenas 66 páginas. É de difícil digestão. A única certeza que temos na vida é que nascemos e morremos. Mas, em se tratando da morte, não estamos preparados para lidar com ela.
A morte. Mas o que é a morte? As religiões têm as suas próprias teorias sobre a morte. Mas a verdade verdadeira é que nós não gostamos muito de pensar sobre isso. Passamos a vida nos esquecendo dela. Mas de repente, ela aparece. Me lembro muito da minha avó dizendo: a morte é um mistério. Pois então. É justamente esse mistério que nos tortura quando paramos para refletir sobre a morte. Por isso, é mais reconfortante não pensar muito sobre ela.
Então: o que dizer desta novela de Tolstoi? Escrito em 1886, essa é uma obra que fala do homem comum, da banalidade da existência, de como ele, o personagem central dessa obra, torna a vida mecânica e burocrática. Ele é um burocrático e passa a sua existência vivendo dessa maneira, sem grandes sonhos, sem grandes aspirações.
Bem, vamos então ao enredo. Ele é um juiz de direito que aplica o direito burocraticamente, de maneira a não se envolver com as questões. Apenas operando o direito. Aparentemente feliz e realizado desta maneira quando jovem – ele realmente acredita ter alcançado o sucesso –, ele também resolve se casar com uma mulher, que nem ama tanto assim, e que também vive com ele uma vida mediana. Tudo na vida se torna mais ou menos. Até o dia em que essa convivência se tornar insuportável e dura 20 anos, até a sua morte. O fato é que a obra nos faz refletir sobre os porquês de as pessoas se acomodarem tanto com a vida, com o jeito de viver e com as pessoas ao redor, a ponto de abdicarem de sentir prazer, amor e vontade de viver.
O livro se trata basicamente disso, da vida e morte de Ivan Ilitch, um homem burocrático e, até mesmo, chato que, decorrente de uma doença que não foi diagnosticada, morre.
Mas, o que tem de mais nessa novela para ser tão consagrada e ter se tornado um clássico da literatura russa, e mundial, e se destacar na obra de Tolstoi?
Vamos a isso então: o que abrilhanta essa obra e a torna um soco no estômago de quem a lê é justamente a forma como a morte, algo inevitável e que nós, seres humanos, somos os únicos seres da terra a ter a consciência dela, é retratada.
Uma vida aparentemente feliz em sua juventude. Uma vida insuportável após alguns anos de casamento, e que o personagem principal preferia passar mais tempo no trabalho do que em casa. Uma total desconexão com os filhos. E, aos 45 anos ele morre, consciente de que estava morrendo. E aí eu me pergunto: e o que ele viveu? E o que ele amou? E o que ele conheceu da vida?
No livro Antes de partir, a autora, uma enfermeira, relata os arrependimentos comuns dos pacientes em estado terminal. Muitos desses arrependimentos têm relação direta com algo que se tenha deixado de fazer. Deixado de ter coragem para fazer determinada coisa, deixado de ter amado mais, deixado de ter vivido alguma experiência… Deve ser muito dolorosa essa sensação de não ter vivido da maneira como se gostaria. E é justamente disso que se trata esse livro.
Ivan Ilitch, à beira da morte percebe que sua vida deveria ter sido diferente. E, essa sensação dá um vazio muito grande no personagem. Entre tantas coisas que ele observa nesse momento é que ele não desejava morrer e que ele deveria ter passado mais tempo com os filhos. Dolorosamente, ele nota, também, a reação das pessoas sobre a morte dele.
Dito tudo isso, confesso que não foi uma leitura fácil para mim. Um livro pequeno que foi de muito difícil digestão. E você, qual foi a sua percepção dessa novela de Tolstoi? O que você achou? Deixe nos comentários para eu ver se você também levou um soco no estômago, assim como eu.