Se a rua Beale falasse – James Baldwin

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Se a rua Beale falasse – James Baldwin

Antes de abordar a sinópse do livro Se a rua Beale falasse, de James Baldwin, é importante situar o leitor sobre a referência histórica da época em que se passa a história.

A história do livro se passa na década de 1970 (em 1973), poucos anos depois do assassinato do maior líder negro norte-americano, Martin Luther King, em 1968. Esse momento precedeu algumas grandes conquistas dos negros. Acreditem: até pouco tempo, os negros não podiam ir ao mesmo banheiro que os brancos. Não podiam usar o mesmo transporte público. Não podiam sentar nas mesmas cadeiras em lugares públicos. A segregação era real.

Somente no final da década de 1960, em 1967, caiu a última lei antimissigenação. Ou seja, só nesse momento foi permitido aos negros casar-se com brancos. Crescia, naquele momento, um forte movimento civil pelos direitos humanos dos negros, encabeçado por seu maior líder, Martin.

Muitos ataques eram organizados pelo Ku Klux Klan e organizações racistas. Crescia a vontade dos negros de combater a violência dos brancos com a mesma moeda, através de mais violência.

No entanto, a segregação de fato, ainda pode ser vista nos Estados Unidos nos dias de hoje. Não só lá, mas aqui no Brasil podemos ver que é cotidiana, infelizmente.

Na época em que o livro foi escrito, criminalistas norte-americanos já estavam questionando a funcionalidade e a eficiência das prisões dos Estados Unidos, sob o aspecto de ressocialização. Eles estavam avaliando as prisões como um espaço capaz de produzir ainda mais criminalidade. Vejam só. Como isso ainda é atual.

Mas, vamos ao livro:

Em “Se a rua Beale falasse”, o enredo é construído em torno da prisão de Fonny, negro, aspirante a artista, que se arriscou a morar em uma região “branca” de Nova Iorque junto a sua noiva Tish. Durante a história, percebemos que os negros não são nada bem-vindos a regiões tidas como branca.

O romance é contado em retrospectiva, então desde o início o leitor sabe que Fonny vai preso. Embora seja uma relação fictícia (Fonny e Tish), vários elementos da narrativa são reais e a inspiração do autor veio com uma história real de Wilian Tony Maynard, um de seus amigos. Em se tratando desse contexto, certamente, haveria muitos “Fonnys” para servirem de personagem principal.

Coincidência, ou não, a rua Beale fica em Memphis, no Tennessee, no Sul dos Estados Unidos, mesma cidade onde o maior líder da comunidade negra foi assassinado na varanda do hotel em 1968. E, a região sul também foi responsável por grandes tragédias e perseguições, local de mais concentração de pessoas brancas, nos Estados Unidos.

O grande erro dos protagonistas, na verdade, muito mais em função da vontade de Fonny, foi escolher um local para morar que mostra nitidamente ser um espaço de opressão. Existem vários episódios no livro que mostram isso. A sexualidade é tratada na trama da seguinte maneira: a mulher negra é aquela que os brancos podem assediar. Assim como o homem negro também mostra a sua sexualidade no imaginário, no entanto como um estuprador.

Referenciais simbólicos e psiques foram forjados na religião – no caso, protestante. Mesmo que o autor tenha refutado a religião de sua vida, essa relação com as doutrinas religiosas serve como um pano de fundo de suas obras.

A questão da cor da pele é crucial na trama. Como um romance narrado pela jovem negra Tish, o escritor mostra com sutileza a percepção dessa questão inclusive pela personagem principal.

Romancista, ensaísta, poeta, dramaturgo e ativista político, muitos elementos da história se confundem com a própria história do autor.

É um livro tocante, revoltante e reflexivo. Como permitimos que isso aconteça com um ser humano que é exatamente igual a nós? Cor da pele já foi e ainda é, infelizmente, determinante para saber quem oprime e quem é oprimido. E isso não é vitimismo. É histórico e estatístico.  

#Oscar2019 Um livro tocante, de romance fictício, mas que poderia ser real, ainda nos dias de hoje… Vale a pena a leitura! Foi adaptado e o filme está concorrendo ao Oscar 2019.

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